Há algum tempo me tornei uma tradicionalista atuante, ou seja, deixei de ser uma mera frequentadora dos eventos promovidos no meio tradicionalista, para passar ser uma colaboradora deste movimento que sustenta a tradição de um povo que, por vezes, apresenta enorme resistência diante de uma cultura que não é oriunda de gostos e interesses pessoais, mas sim, algo que é bem maior e imutável, A HISTÓRIA.
Quando me dei conta da importância de melhor conhecer este movimento cultural, conhecer mais sobre a história, a geografia, a formação étnica, os usos e os costumes que serviram de diretrizes para este culto às tradições do gaúcho, é que me dei conta do quão ignorante eu era, e ainda sou...
Foi então que resolvi me adequar e me angajar de forma mais participativa e colaborativa dentro do meu CTG, o tão falado por mim, Família Nativista. Há uns 15 anos, por incentivo forte do meu marido César Tiaraju e também da minha sogra Geovane, tradicionalistas atuantes e aguerridos, comecei a ler, participar de eventos, cursos e frequentar palestras, muitas ministradas por eles mesmos.
Estreitei laços de amizade com pessoas como o Tio Zeno Dias, tradicionalista de um saber notável; com o Dona Tereza, mulher de vivência tradicionalista intensa e com mãos abençoadas que tão bem retratam nossa cultura através de seus artesanatos. Dentro deste contexto, cada vez mais me apaixonava por este movimento ao qual chamamos tradição.
Mas há um tema que me chama atenção, particularmente... O TRAJAR da mulher gaúcha. Este me causa dores de cabeça diante do cargo de Posteira Cultural em 2 gestões consecutivas na minha entidade... Como é difícil fazer nossas mulheres se vestirem adequadamente para os eventos tradicionalistas!
No início do tradicionalismo, com a retomada dos nossos usos e costumes no fim da década de quarenta, com a fundação do “35 CTG”, era necessário que a mulher trajasse uma típica vestimenta gaúcha para freqüentar o primeiro Centro de Tradições Gaúchas e como não havia nada específico para tal, foi preciso realizar um trabalho sério de pesquisa em cima dos trajes, que com o passar dos tempos e das diferentes modas, a mulher rural trajou até então.
Eis o primeiro conflito: o vestido atual da prenda retrata o trajar campesino e não citadino, porque mesmo com essas características inovadoras da indústria têxtil e cosmética, era imprescindível conservar os pressupostos de simplicidade, sobriedade e recato que sempre foram inerentes à mulher gaúcha do meio rural.
Os modelos são de livre criação, de acordo com o poder aquisitivo, ambiente, clima, idade, tipo físico, porém, é importante ressaltar que o bonito é ser simples no meio tradicionalista. É necessário que as mulheres gaúchas saibam adequar seus modelitos de acordo com características que vão além do histórico, mas que vão ao encontro do bom gosto, da coerência, já que possuímos uma diversidade infinita de tecidos, cores e modelos.
No ambiente rural - que é ao qual devemos nos reportar sempre - não usamos determinados tecidos, enfeites e modelos, tais como: o uso de transparências, brilhos (todo e qualquer artefato usado para eventos citadinos de gala (clubes), tais como plumas, paetês, lantejoulas, strass, pérolas, missangas,...), decotes exagerados expondo ombros e seios, mangas curtas em eventos formais e festivos sociais, sendo permitido descobrir, no máximo, dez centímetros acima dos punhos em eventos oficiais.
Quanto às cores devemos evitar a mistura de cores contrastantes e em desarmonia; preto “nem” nos enfeites (salvo representação de luto); não se admite combinações usando as cores da bandeira (verde, vermelho e amarelo), nem o uso de cores cítricas e berrantes, devemos também, reservar as cores mais escuras para senhoras idosas, deixando as mais claras para crianças, o branco de uso exclusivo das noivas e debutantes.
Enfim, o trajar da mulher gaúcha é um assunto que considero bastante relevante, já que somos representantes de um movimento histórico, onde devemos retratar com a maior fidelidade possível o trabalho de pesquisa e resgate da vida das pessoas que nos deixaram este legado, de uma cultura que é nossa, pois um povo que não cultua a sua origem é um povo sem cultura e sem memória. É justamente para que esta história e esta cultura não se percam é que foram criados os Centros de Tradições Gaúchas.
Aqui, deixo a bela imagem da Luana Raquel, 1ª Prenda Mirim do RS, um exemplo de trajar e de tradicionalista, tão jovem e com tanto a nos ensinar!
E que venham os festejos farroupilhas, as prendas e seus vestidos...
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